Como fazer residência em Clínica Médica nos EUA? Uma carta para você se inspirar.

Como passar pelo processo do USMLE e aplicação para uma vaga de residência em Clínica Médica nos Estados Unidos? Leia o relato e a história inspiradora da Dra. Julia.

Dia 17 de Março, eu recebi o tão aguardado email: “Congratulations, you have matched”. Foram cinco anos de dedicação para ler quatro palavras. Quatro palavras que mudaram o curso da minha vida.  E eu chorei. Chorei de alívio, de emoção, de felicidade. Dia 17 de Março marcou o primeiro dia do resto da minha vida. 

Quero voltar no tempo, entretanto, para contar como foi chegar até aqui. Tudo começou em 2020, quando fiz um curso de pesquisa clínica que me abriu os olhos para o mundo lá fora. Eu sempre quis viver “the American dream”, mas a jornada até o Match parecia impossível. E, sim, ela é impossível à distância! Não é à toa que se ouve muito “Foi sorte!”. Ao longo de 2020, fiz amizades que me mostraram que a jornada não é só possível como factível. Eles me mostraram os primeiros passos. 

Compartilhei a ideia maluca de mudar de país com meus pais. Eu precisava do apoio emocional (e financeiro) deles para seguir o que meu coração me dizia. A minha resposta foi um abraço da minha mãe. Um abraço apertado demais para ser um mero abraço. Nesse instante, eu e ela sabíamos que, cedo ou tarde, aquele abraço não seria mais possível. 

Mas… E o medo?! Medo de focar toda minha carreira em algo tão incerto e arriscado. Medo de investir tanto tempo e dinheiro e me frustrar. Medo de me comprometer tanto e me arrepender. Eu não tinha bola de cristal para me dar as respostas, mas eu tinha força de vontade e coragem. E isso basta. 

Comecei a jornada no terceiro ano de faculdade. Fiz ambos os steps, OET, TOEFL. Me organizei para fazer clerkships em hospitais americanos. Participei de alguns projetos de pesquisa, publiquei alguns artigos. Descrever minhas conquistas assim é fácil. Itens de uma lista. Check, check, check. Porém a realidade não foi assim. Por exemplo, eu estava apavorada na noite anterior ao Step 1. Tive insônia, urticária nervosa, gastrite e enxaqueca! Tudo junto e misturado. Mas, o despertador tocou, eu levantei, me olhei no espelho, chorei tudo o que precisava, lavei o resto e bati no peito: eu tinha medo, mas eu era maior que ele. O nervosismo e o pavor foram um pouco menor para o Step 2CK, mas eles ainda marcavam presença. E ainda assim, lá fui eu fazer a prova. 

No último ano de faculdade, eu decidi aplicar para o Master of Public Health (MPH) em Johns Hopkins. Essa decisão também foi arriscada. Eu não tinha certeza se o degree seria melhor do que conseguir uma posição como research fellow ou assistant, se eu conseguiria minhas cartas de recomendação a tempo, se eu conseguiria concluir o curso com sucesso. De novo, estava com medo. E, de novo, respirei fundo, juntei toda minha coragem e me mudei para Baltimore. 

As dificuldades foram inúmeras desde o começo. Aplicar para o match simultaneamente exigiu bastante de mim em todos os aspectos. Eu tive problema com a emissão do meu diploma, com a tradução e com o envio dos documentos para o ECFMG, sofri com a submissão das cartas de recomendação e achei que não fosse conseguir fazer tudo até o deadline. A frustração de estar de mão atadas e incapaz de resolver as burocracias que travavam meu processo era enorme. Enfim, mesmo sabendo de como o processo funciona e tendo todo o time da Mentoria Applicaction Season por trás, eu não estava imune ao estresse e à frustração. Esses meses serviram de grande crescimento pessoal.

Em seguida, veio a fase de entrevistas. Foi um outro momento de aprendizado, quando tive que olhar para mim, para quem eu era e queria ser e conseguir descrever isso para outras pessoas. O desafio de seguir em frente, inabalável, depois de uma entrevista não tão perfeita assim também foi grande. A pressão psicológica de deixar escorrer entre os dedos uma oportunidade por uma expressão mal-usada ou pela barreira linguística era quase paralisante. Mas eu segui em frente. Com medo. Porém sempre em frente. 

Quando terminei minha última entrevista, imaginei que o sofrimento tinha acabado. Doce ilusão. A fase da rank-list foi marcada por noites maldormidas, pesadelos e muita gastrite! Ah, como que gostaria de ter uma bola de cristal comigo. Qual o segredo para ranquear? Eu sequer conseguia definir o programa que que mais queria. Todos tinham particularidades relevantes. Deixar ir foi muito desafiador. Com a lista feita e certified, eu rezei e agradeci. Esse processo me transformou na minha melhor versão e eu era já era extremamente grata por tudo.  

De lá para cá, foi aguardar e manejar uma mistura de sentimentos entre ansiedade, medo, felicidade e expectativa. Dia 17 de março, com o resultado em mãos, eu recebi o mesmo abraço de lá trás, quando tudo começou. Aquele abraço apertado foi um abraço de despedida. Eu estava pronta para alçar voo. 

Eu ainda não sei para onde vou e não consigo nem imaginar como minha vida vai estar em dois, três ou quatro meses. E, admito, estou com medo. Mas com medo ou sem medo, eu sigo em frente. Um dia de cada vez.  

Compartilho minha história para encorajar todos dessa Comunidade que estão com medo. Eu também! Não deixe o medo ser maior que o sonho de vocês! E, num futuro não tão distante assim, espero cruzar com algum de vocês pelos corredores do hospital! 

Julia De Conti Pelanda

Picture of Escrito por Julia De Conti Pelanda

Escrito por Julia De Conti Pelanda

MD from Universidade Federal do Paraná. MPH student at Johns Hopkins Hospital. Soon to be PGY1 at Lincoln Medical Center/NY.

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MD from Universidade Federal do Paraná. MPH student at Johns Hopkins Hospital. Soon to be PGY1 at Lincoln Medical Center/NY.

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