Quem está aplicando agora para residência nos EUA vê apenas o desfecho da jornada de quem já está na residência – os incríveis Matches de pessoas que conseguiram chegar aonde vocês gostariam de estar no futuro.

A verdade é que pouco tempo atrás todos nós estávamos nessa mesma situação, com as mesmas ansiedades e dúvidas, com a admiração por todas as pessoas que conseguiram o desejado Match, com o maior medo de todos: será que eu também posso chegar lá?

O que vocês estão vendo agora é um resultado e por trás disso tem todo tipo de histórias, desafios, nãos, falhas, ‘red flags’, medos… Incluindo a minha (e que, ainda assim, deu certo).

Minha história começa com o fato de que nunca tinha pensado em vir morar nos EUA, não tinha inglês
nem conhecimento do processo para ser médico aqui, até que meu esposo foi aceito para fazer o doutorado na Carolina do Norte. Depois de concluir minha formação no Brasil, incluindo residência de Pediatria e UTI Ped, me mudei com meu esposo para os EUA. Passei 3 anos só me preparando para o Match, e fiz no tempo que deu.

Nesse período, comecei a estudar inglês enquanto estudava para os steps, sem experiência prévia em pesquisa, comecei a fazer parte de um grupo de Global Health da Duke e, posteriormente, um PostDoc de imunologia oral na University of North Carolina (UNC). Além disso, desde que cheguei aqui, comecei a procurar por Observership. Para conseguir o Observership na Duke, troquei tantos e-mails que perdi a conta, até que eu fui aceita como a primeira observer depois a pandemia. Em Maryland foi o mesmo. E aproveitei a oportunidade para publicar um relato de caso na Frontiers in Pediatrics com o time. Nesses dois Obseverships e no grupo de pesquisa de Global Health consegui minhas cartas americanas.

Com as coisas mais ou menos encaminhadas, surgiu uma oportunidade de fazer um Observership na UNC (não seria fácil, mas eu poderia tentar). Um sentimento/lembrança que me marcou muito é que mesmo esse sendo meu programa top 1, eu quase desisti de fazer um Observership lá para tentar num programa que já havia aceitado imigrantes, com tanto medo que eu estava de “gastar meu tempo” num programa que não me aceitaria.

Dormi noites pensando sobre isso e decidi tentar – you need to do what it takes!

Consegui uma Interview na UNC e, eu me lembro como hoje da sensação de passar na frente do hospital da UNC todos os dias a caminho do PostDoc pensando que jamais estaria lá… Cá estou eu escrevendo essa carta depois de concluir mais um dia de residência UNC!

O Match é um resultado que tem tantas, mas tantas histórias diferentes por trás, e essa é a minha resumidamente (e pode ser a história de qualquer um). No final, o que conta é o quanto você põe nesse processo, incluindo a capacidade de adaptar a jornada para sua própria história. Para mim, ajudou muito ter um plano condizente com minhas próprias necessidades e capacidades, e usar isso como uma forma de organização, sabendo que não necessariamente aconteceria como planejado.

Ajudou muito aceitar a me reinventar durante o processo, e entender que meus resultados e rendimento seriam diferentes de quem sempre sonhou com morar aqui e já sabia falar inglês muito antes de começar a estudar para o Step 1. Ajudou muito o apoio da família, uma comunidade para me guiar e encontrar outras pessoas que compartilhavam dos mesmos medos.

E ajudou muito acreditar que era possível. A pressão e os desafios são grandes, e o medo é maior que tudo, tive medo durante o processo inteiro, para isso não tem escape. Mas o que tem também são várias pessoas do mundo todo dando Match com as histórias mais diferentes possíveis, ou seja, é possível! Acredita nisso e não deixe o medo te impedir de viver nenhuma oportunidade.

Boa sorte! Espero que daqui a um tempo vocês estejam contando a história de vocês!